A greve dos caminhoneiros fez o governo do
presidente Michel Temer sofrer com o enfraquecimento político e perder
defensores até mesmo entre governadores de partidos aliados ao MDB, que, além
da ligação política, dependem de recursos federais para as próprias
administrações.
A quatro
meses de uma eleição em que a impopularidade de Temer não deverá ser boa
companhia no palanque, mesmo governadores do MDB, como Paulo Hartung, do
Espírito Santo, reclamam da atuação da gestão federal na crise. O partido do
presidente tem atualmente cinco governadores. De todos eles, o único a sair em
defesa da atuação de Temer durante a crise foi Luiz Fernando Pezão, do Rio,
justamente o único que não será candidato em outubro.
Os outros
quatro criticaram de forma direta ou parcial a reação federal à greve – o único
a não ter respondido aos questionamentos do Jornal O Globo, o governador de
Alagoas, Renan Filho, tem adotado postura oposicionista em relação a Temer, em
alinhamento com seu pai, o senador Renan Calheiros.
Além do MDB,
há dois partidos da base aliada que possuem governadores e não têm nomes já
lançados à disputa presidencial: o PP, que governa o Paraná e Roraima, e o PSD,
que administra Rio Grande do Norte e Sergipe. Em geral, os governadores aliados
do governo evitaram se opor de imediato à ação dos caminhoneiros, mas passaram
a defender o término da paralisação nos últimos dias.
“Não tivemos
nenhuma ajuda do governo federal. Temos um governo central fragilizado e temos
um surto de populismo no nosso país. Essa combinação é perigosa. E a gente
precisa fazer o exercício de liderança responsável do tempo que estamos
vivendo”, avalia Hartung, que ainda não definiu se tentará a reeleição. “Acho
que foram três movimentos em um. O dos caminhoneiros autônomo, o das empresas transportadoras
e o político, que não foram percebidos junto porque há brutal fragilidade do
governo federal. Não saber o que estava envolvido pela área de inteligência
mostra o desgoverno”.
Também
correligionário de Temer no MDB, o governador de Santa Catarina, Eduardo Pinho
Moreira, defendeu a “legitimidade” da greve e atacou a política de preços de
combustíveis do governo federal. “Desde o início, reconhecemos como legitima a
manifestação do movimento, diante de uma política equivocada de preços dos combustíveis.
O governo federal demorou a perceber a gravidade. Agora, a partir do momento em
que a reivindicação foi atendida, a greve deveria ter sido paralisada já há um
tempo”, opina Pinho Moreira. “Os estados não podem pagar a conta de uma
política equivocada do valor dos combustíveis. A solução financeira deve vir do
governo federal. Todos precisam fazer a sua parte”.
Enfrentando
um desgaste de níveis semelhantes ao do governo Temer, o governador do Rio,
Luiz Fernando Pezão, foi o único do MDB a sair em defesa da administração
federal, que, na sua visão, “fez o que era necessário e possível fazer”. Ainda
que liderasse um governo popular, Pezão já foi reeleito em 2014, e não poderia
mais concorrer novamente ao cargo. Entre os que mantêm pretensões eleitorais em
outubro, é mais raro encontrar a defesa da gestão e Temer. No MDB, além de
Renan Filho, completa o time de governadores José Ivo Sartori, do Rio Grande do
Sul. Ele repetiu a tônica de políticos pré-candidatos, a maioria se
equilibrando entre reconhecer como “legítima” a greve e criticando a
continuidade do movimento que tem afetado o funcionamento do país.
“O movimento
dos caminhoneiros iniciou sua manifestação de forma correta, tanto é assim que
a maioria da população estava a favor. Agora, já passou de todo os limites”,
declarou, na última quinta-feira.
A governadora
do Paraná, Cida Borghetti (PP), tem avaliação parecida com a de Pezão.
Ex-vice-governador de Beto Richa (PSDB), que deixou o cargo para se candidatar
a senador, ela defende que o governo Temer atendeu, “na medida do possível às
solicitações do movimento”. O Paraná é um dos estados em que a produção
agrícola tem grande importância no PIB, e Borghetti também deve tentar a
reeleição.
O Jornal O
Globo não conseguiu contato com a outra governadora do PP,
Suely Campos, de Roraima. Ele também deve se candidatar à reeleição, e teve a
relação com o governo Temer abalada nos últimos meses por causa da imigração de
venezuelanos até a capital do estado, Boa Vista. Suely chegou a cobrar do
governo federal o fechamento da fronteira com a Venezuela, levando o caso até o
Supremo Tribunal Federal (STF), o que irritou o Palácio do Planalto, que viu
motivação eleitoral para a atitude. Os governadores do PSD, Robinson Faria e
Belivaldo Chagas, não responderam.
Com
informações do Jornal O Globo
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