Francisco
Paes de Castro (Chico Paes), nasceu no dia 23 de outubro de 1925 no Sitio
Felipe, no antigo distrito de Tarrafas, que pertencia ao Assaré. Era filho de
João Paes de Castro, um famosíssimo tocador e afinador de fole de 8 baixos e
Maria Alexandrina da Conceição.
Passou
a sua infância no Sítio, igual aos outros meninos sertanejos da sua época,
intercalando o tempo entre trabalho na agricultura ou se divertindo com os
brinquedos que ele mesmo fazia. Naqueles tempos não existiam escolas, mas
estudou particular com a professora Risalva, na Serra de Santana, aprendendo
assim a ler e escrever.
Certo
dia, quando contava com apenas 8 anos, resolveu mexer na harmônica de 8 baixos
pertencente ao pai, enquanto o mesmo encontrava-se no roçado. Viu então que
podia se profissionalizar na música. E na ausência do pai, se exercitava no
fole, porque sabia do ciúme que o velho tinha pelo instrumento.
Este
episódio biográfico do músico pode ser contado assim: pela manhã ele se dirigia
ao roçado acompanhando o seu pai. Mas, por volta das 10 horas inventava uma
fome e era liberado para almoçar mais cedo. No entanto, a fome era para tocar
escondido até se aproximar a chegada de seu João.
Um
dia o segredo foi revelado. Tocava animadamente, esquecendo do horário em que o
seu genitor costumava voltar para o almoço. Tão grande foi a sua surpresa e a
de seu pai também. Quando olhou, viu seu João na entrada da casa, com os olhos
em lagrimas.
Parou
o instrumento para colocar na mesa e correr, temendo represália. Seu João o
deteve e com a voz trêmula, ordenou alto tom:
-
Não pare. Toque, sou eu que estou mandando. Toque que eu quero ouvir.
Aliviado
e meio sem jeito, Chico debulhou nos botões da concertina mazurcas, polcas e
até valsas. Daquele dia em diante, teve a liberdade que desejava para tocar à
vontade. Quando completou 10 anos de idade já ganhava um trocado puxando o fole
na feira de Assaré.
Ao
completar 13 anos tocava com perfeição, mas não tinha ordem dos seus pais para
animar os bailes da região. Dona Maria era muito severa. Então, os amigos de
seu João e os jovens queriam Chico para animar os forrós e passaram a
pressionar os seus pais.
Seu
João lhe deu a permissão, mas desde que comprasse o seu instrumento, o que não
foi difícil. Naquele ano, ele botara uma roça de algodão. O ouro branco colhido
lhe deu o dinheiro suficiente para adquirir o instrumento em estado de novo, da
marca Veado, a melhor que existia.
No
final da década de 1940, aparecia no cenário musical brasileiro, o sanfoneiro
pernambucano Luiz Gonzaga. Nas capas dos seus discos se estampavam fotos do
artista do baião abraçado com uma sanfona. O acordeão não era instrumento comum
nos meios artísticos do sertão.
Ao
ver a foto do instrumento sobre o peito de Gonzaga, Chico foi tocado pelo amor
à primeira vista. Até que em 1951 pode adquirir a sua primeira sanfona de 90
baixos, da marca Hohner, na Loja do Sei Pierre, em Crato. Ele possuiu esta
sanfona até 1953, quando trocou por uma com 120 baixos, da marca Scandalli, com
um italiano quando esteve em São Paulo naquele ano, trabalhando nas lavouras de
café.
A
habilidade musical de Chico Paes agradou aos italianos, que o retiraram do
trabalho na lavoura para que ele se dedicasse somente aos bailes para alegrar
aos colhedores e colhedoras de café. Aproximaram-se as festas juninas e Chico
decidiu voltar ao Ceará rapidamente.
Nem
os italianos e nem mesmo os donos de casas de bailes na Capital paulista, que
lhe ofereceram contratos, o detiveram. Porque Chico carregava o sertão dentro
do peito. O mesmo convite rejeitara do famoso sanfoneiro Noca do Acordeom,
quando excursionou pelo Ceará em 1963.
Em
função do modismo criado pela sanfona, Chico se distanciou da concertina de 8
baixos, ou gaita ponto, como chama os gaúchos, por mais de 20 anos. Ela era
usada somente quando o dono da festa exigia a “pé de bode” como instrumento de
animação.
Já
no início da década de 1980 a juventude passou a se encantar com os acordes de
‘gaita ponto’. De mansinho ela voltou a tomar conta dos forrós comandados por
Chico Paes. É tanto que nos últimos 20 anos da sua existência Chico não mais
dedilhou a sanfona de tecla piano. A concertina o levou ao topo da sua
carreira.
Ficou
conhecido como o melhor sanfoneiro de 8 baixos de todos os tempos. Colado a
este pequeno fole Chico ganhou o espaço merecido dentro da sua arte. Recebeu o
título de mestre da cultura do Estado do Ceará, através do Projeto Tesouros
Vivos.
Por: Jornalista Jesus Leite.
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