Dados levantados pelo
Jornal Folha de São Paulo mostram que um
em quatro municípios do País está com índice de infestação do mosquito Aedes
aegypti considerado alto, o que coloca esses municípios em situação de risco
para novos surtos de dengue, zika e chikungunya.
O estudo, chamado de Levantamento Rápido de Infestação de Aedes aegypti
(LirAa), é feito pela pasta em conjunto com municípios a cada três meses. Ao
todo, 4.933 municípios enviaram informações. Os dados, coletados entre março e
abril, devem ser divulgados nesta semana. Segundo o balanço, 1.153 municípios,
ou 23,4% do total, tinham a presença do mosquito em mais de 4% dos imóveis
visitados — daí o risco de surto. Outros 2.069 municípios, ou 41,9%, estavam em
alerta para novas epidemias, que ocorre quando o índice de infestação fica
entre 1%
Para o Ministério da Saúde, os resultados apontam a necessidade de
redobrar os cuidados e controle de possíveis criadouros, mesmo no outono e
inverno, quando costuma haver queda nos casos de dengue e outras doenças. Isso
porque, apesar do clima desfavorável à reprodução do Aedes, as larvas dos ovos
já depositados podem aguardar até mais de um ano para se desenvolverem e darem origem
a um novo inseto.
Para o secretário de Vigilância em Saúde, Osnei Okumoto, os dados
mostram que é necessário mais atenção nas ações de combate ao mosquito. “A
prevenção não pode ser interrompida, mesmo no período mais frio do ano”, alerta
ele, para quem o controle nesse momento é fundamental para manter baixos os
índices de infestação até os meses mais quentes e chuvosos — e favoráveis à
proliferação de Aedes. “Só assim será possível manter a redução do número de
casos.”
Para o infectologista Artur Timerman, os dados apontam a necessidade de
que o governo discuta novos modelos de controle do Aedes. “Esses números
mostram que a situação é extremamente preocupante. Isso só enfatiza a
importância de discutir mais seriamente modelos de prevenção de arboviroses”,
afirma. “É preciso discutir saneamento básico, impermeabilização, preservação
de áreas verdes. Precisamos discutir o modelo de urbanização, senão não vamos
controlar a infestação do mosquito.”
17 capitais em risco
O “mapa” também aponta número maior de municípios em situação de risco e
alerta em relação ao levantamento anterior, finalizado em dezembro. Na época,
5.174 municípios enviaram dados que permitem a classificação. Destes, 9% dos
municípios estavam em situação de risco de surtos. Outros 30% estavam em
alerta. Já a maioria estava em situação satisfatória.
Agora, apenas 35% dos municípios apresentavam índice de infestação
considerado baixo. Ao todo, 1.711 cidades estão nesse grupo. As demais estavam
em risco ou alerta. Para Timerman, o ideal, porém, seria comparar períodos
semelhantes, já que há mudanças climáticas – o ministério não disponibilizou
esses dados. Entre as cidades em risco, há duas capitais: Cuiabá e Rio Branco.
Outras 15 estão em alerta.
Na outra ponta, há três em situação considerada satisfatória: São Paulo,
João Pessoa e Aracaju. As demais não enviaram dados. Além dos índices de
infestação, o levantamento aponta os locais mais frequentes onde há presença de
larvas e ovos do mosquito. Neste caso, a situação varia conforme a região. No
Nordeste, a maioria estavam em tonéis e barris usados para armazenamento de
água nas casas. Já no Norte, Sul e Centro-Oeste, o depósito predominante foi o
lixo, como sucatas e entulhos. No Sudeste, a ocorrência é maior em depósitos
caseiros, como vasos de plantas.
Dengue tem queda de
26%
Apesar do aumento na infestação, dados do Ministério da Saúde mostram
que, quando observados os dados no total, o número de casos de dengue, zika e
chikungunya seguem em queda no país. Até 21 de abril deste ano, data dos
últimos dados disponíveis, o Brasil tinha 101.863 casos prováveis de dengue
contabilizados. No mesmo período do ano passado, eram 128.730 — queda de 26,3%.
O cenário, no entanto, varia conforme os estados. Neste ano, ao menos
dez deles tiveram algum aumento nos casos de dengue, ainda que em menor escala.
É o caso de São Paulo, que passou de 4.032 casos para 10.122 neste ano, de
acordo com o ministério. Segundo o coordenador do controle de doenças do
estado, Marcos Boulos, houve aumento na infestação em fevereiro, o que levou à
alta dos casos, mas com queda logo nos meses seguintes. “Depois de algum tempo,
não aumentou mais”, afirma.
Segundo ele, a situação coincide com o aumento, pouco a pouco, na
circulação da dengue tipo 2, um dos quatro sorotipos do vírus da dengue. Até
então, o tipo 1 era o predominante nos últimos anos. Apesar disso, para Boulos,
a combinação entre o tempo seco e o baixo número de casos aponta que a dengue
não tende a preocupar tanto neste ano em São Paulo — o que não descarta a necessidade
de ter que manter o controle do mosquito.
Com informações do Jornal Folha de São
Paulo.
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