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Queda na produção faz disparar preço da tilápia

O cenário de esvaziamento dos reservatórios está levando à importação do pescado

Mediante o quadro de escassez de água e queda acentuada na produção, estima-se que o quilo da tilápia, que custava R$ 8, já chegue a R$ 10 e, na Semana Santa, talvez alcance de R$ 15 a R$ 20 ( Foto: Honório Barbosa )

Iguatu. A partir de hoje, Quarta-Feira de Cinzas, começa para os católicos a Quaresma, um período de 40 dias em que se recomenda a prática do jejum, da oração, da penitência e caridade. Faz parte da tradição o consumo de pescado, que se intensifica na Semana Santa. Só que neste ano, os consumidores que preferem o peixe de água doce vão pagar mais caro porque os açudes estão secos e os criatórios reduziram em mais de 80% a produção.

No Açude Castanhão, o maior do Ceará, a produção de tilápia, o peixe que conquistou o gosto dos consumidores, caiu cerca de 90%; no Orós, o segundo maior reservatório, a redução foi de 70%; no Banabuiú, o terceiro maior, a paralisação foi total. Mediante o quadro de escassez de água e queda acentuada na produção estima-se que o quilo da tilápia, que custava R$ 8 já chegue a R$ 10 e, na Semana Santa, talvez alcance de R$ 15 a R$ 20.

Importação

Nos últimos três meses, o Ceará já vem importando da Bahia, Pernambuco e Maranhão tilápia e curimatã. Caminhões trazem o pescado e distribuem para cidades do Interior e para Fortaleza. "Não tem como atender à demanda, que tende a crescer nas próximas semanas", disse o piscicultor Evanilson Saraiva, da localidade de Barrocas, nas margens do Açude Orós. "A produção semanal caiu de 800 quilos para 200 quilos na nossa comunidade", contou.

Em outras localidades, há estimativa de queda de 95%. "Sem água, não tem como criar peixe nas gaiolas", observou Saraiva. "É preciso vir de fora". Na feira livre de Iguatu, o quilo da tilápia varia entre R$ 10 e R$ 12. "A perda de água nos reservatórios obriga a importação de peixe e o aumento de preço", afirmou o integrante da Comitê do Alto Jaguaribe, Paulo Landim. "Neste ano, os açudes da região não terão condições de atender à demanda", completou.

Defeso

Além da redução de pescado em cativeiro, começou, no último dia 1º, o período de defeso para os peixes de piracema de água doce (branquinha, curimatã, tambaqui, piau e sarinha). A proibição da pesca vai até o fim de abril. Os pescadores artesanais têm o direito a três parcelas no valor de um salário mínimo do seguro desemprego. "Temos de cumprir a lei e a pesca artesanal está suspensa, os açudes estão fechados", observou a presidente da Colônia de Pescadores de Iguatu, Neide França. O presidente da Colônia de Pescadores do Açude Ubaldinho, em Cedro, Fabiano Franco, lembrou que a suspensão por determinação legal contribui para a falta do pescado no mercado regional nesta época do ano.

O presidente da Associação dos Criadores de Tilápia do Açude Ubaldinho afirmou que a produção está muito menor do que em relação ao mesmo período de 2016. "Até o momento, caiu 70%, mas, se não aumentar o volume de água, só tem como produzir até a Semana Santa e depois vamos parar totalmente", explicou. O piscicultor José Iran da Silva comercializa diariamente tilápia criada em gaiolas no Açude Orós na feira livre de Iguatu. Ele lembra que há 15 dias houve mais uma mortandade no parque aquícola da comunidade de Jurema. O prejuízo foi de cerca de 70 toneladas. Outro piscicultor, José Welton Roseno, disse que vende o quilo de tilápia oriunda de Orós por R$ 10, mas a que vem da Bahia já é vendida por R$ 15.

A cada semana, os empresários Etevaldo Felipe e Luciano Mangueira trazem da Bahia oito mil quilos de tilápia, que são vendidos na região Centro-Sul, em Fortaleza e na Serra da Ibiapaba. Antes, eles criavam peixe no Orós, mas, com a perda de volume, transferiram a atividade para outro Estado.

Sertão Central

Desde fevereiro de 2015, quando o Açude Arrojado Lisboa (Banabuiú) começou a atingir a sua cota mínima, os 1.124 profissionais cadastrados na Colônia de Pescadores Z-14 começaram a deixar a atividade artesanal.

A pesca caiu acentuadamente no terceiro maior reservatório do Ceará. A cidade passou de exportadora da pesca a importadora de tilápia, principal prato e tradicional nos restaurantes daquela cidade.

Antes, era possível pescar de seis a sete toneladas por mês, explica o presidente da Colônia Z-14, Genival Maia Barreto. A carência deverá encarecer o preço do peixe preferido na região, a tilápia.

O quilo era vendido na beira d'água a R$ 5. Na cidade não passava dos R$ 10. Agora, na Quaresma, o preço vai subir para R$ 12. Na Semana Santa, vai disparar. O pescado vai ser vendido a R$ 20 o quilo, estimam os empresários do setor.

O representante dos pescadores no Sertão Central aponta também o período de defeso da piracema como um dos fatores para a elevação do preço do pescado. Nesta época, de desova em águas limpas, é proibida a pesca das espécies de piracema. "A opção para os mais pobres será a sardinha, bem mais em conta. A outra alternativa vai depender das chuvas, da revitalização dos cardumes ou aceitar o valor estabelecido pelos comerciantes", disse Barreto.

Além de Banabuiú, o Arrojado Lisboa abastecia Quixadá, a região de Sobral e São Benedito, ainda Fortaleza e até Campina Grande, na Paraíba. Nos últimos dias, o açude recebeu uma considerável recarga d'água, passando de 624 milhões de metros cúbicos para 926, mesmo assim representando apenas 0,58% do volume total, 1,6 bilhão de metros cúbicos, conforme dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).

Redução

90% 

Foi a queda na produção de tilápia no maior açude do Estado, o Castanhão; no Orós, segundo maior, a redução foi de 70%; no Banabuiú, terceiro, parou tudo

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